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Ser Velho em Portugal, mas o que é ser velho?

Ser Velho em Portugal, mas o que é ser velho? Será Portugal um país de velhos? Será Portugal um país para velhos? Estas e tantas outras questões que se levantam todos os dias, num Portugal com uma das taxas de natalidade mais baixas da Europa.

Desde 1944 que os 65 anos marcam a entrada na terceira idade. No entanto, a idade da reforma em Portugal está fixada nos 66 anos e 5 meses. Então, poderemos dizer que é verdade que os 70 anos de hoje são os 60 do antigamente? Apesar de haver quem defenda que apenas a partir dos 75 anos é que deveríamos ser considerados idosos. Porquanto, existem pessoas que com 60 estão muito mais envelhecidas do que outras com 80 anos. E porquê? Ora, são várias as causas que contribuem para esse facto. Como resultado os especialistas falam no envelhecimento biológico e no envelhecimento psicológico ou sociológico. A nossa saúde e bem-estar e o modo de vida são factores fundamentais que ditarão o nosso envelhecimento. Mas aos 65 anos somos velhos?

A dura realidade em Portugal é por cada 100 jovens, existem 153 idosos. Nos próximos anos o n.º de idosos poderá quase que duplicar em relação ao de jovens. A propósito o norte-americano David Bloom (professor na Universidade de Harvard), profetizou numa recente conferência em Portugal que a nossa economia estará comprometida no futuro devido ao envelhecimento. Ainda que em 1950 apenas cerca de 7% da população tinha 65 anos, hoje os números são muito superiores, 22,8%. Portugal é dos países onde a população está a envelhecer a um ritmo alucinante. Assim, em 2050 teremos mais cidadãos dependentes do que a trabalhar.

Inegavelmente somos um país de velhos. Mas como tratamos os nossos velhos? Portugal é estatisticamente dos países da Europa que pior trata os seus idosos. Com efeito, para a Organização Mundial de Saúde (OMS) estamos nos lugares cimeiros em termos de maus tratos a idosos. Sem dúvida, uma posição deveras desonrosa para Portugal. A violência acontece frequentemente em contexto familiar. Não obstante, temos vindo a observar casos de maus tratos em instituições, o que torna a situação mais gravosa. Quando um idoso é institucionalizado, ficamos com a garantia que será tratado com toda a dignidade que lhe é devida. Hoje sabemos que essa garantia pode ser falaciosa.

Por conseguinte, são necessárias várias acções urgentes para pôr termo a este flagelo. Os especialistas defendem a pertinência da identificação dos idosos que se encontram em situação de vulnerabilidade. O propósito é evitar a ocorrência da violência, promovendo a sua segurança e o bem-estar. Investir na vigilância, uma vez que existe um grande número de idosos que vivem sozinhos, sem qualquer rede de apoio. A implementação de medidas legislativas de protecção aos idosos vítimas de abuso. A exigência de formação especializada aos profissionais, de forma a capacitá-los a cuidar e proteger os idosos. O lançamento de campanhas de sensibilização para esta temática para a população em geral. Será crucial trabalharmos em sociedade conceitos como o respeito, a cidadania, o civismo. E, fundamentalmente, denunciar! A violência conduz a consequências físicas e psicológicas que dificilmente serão superadas.

O silêncio encobre grande parte dos casos. Está presente o receio das represálias e a vergonha que acompanha a denúncia dos que por vezes são mais próximos.

Se recuarmos no tempo, verificamos que nas civilizações mais antigas os idosos eram respeitados e venerados. Por exemplo, os mais jovens recorriam a eles em busca dos seus ensinamentos e conselhos. A velhice era sinónimo de sabedoria, experiência, prudência, sensatez e astúcia. E hoje? O que representa para a nossa sociedade, a velhice? O que representam os idosos na nossa sociedade? Serão um peso que carregamos às costas? Ou serão aqueles que nos carregaram ao colo? Numa sociedade em que o parecer se sobrepõe ao ser, qual será o futuro dos nossos velhos?

Estas e outras questões obrigam-nos, enquanto cidadãos conscientes, a fazer uma reflexão profunda do Portugal de hoje. Do mesmo modo, do Portugal que será amanhã. E do Portugal que queremos.

Nota: o texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

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