O envelhecimento é um dos maiores desafios da sociedade actual.
Ao longo dos tempos, a história das civilizações apresenta um notável aumento da esperança de vida dos seres humanos. O momento crucial verificou-se na passagem do século XIX para o século XX, consequência das inúmeras mutações científicas, políticas, económicas e sociais (Palmeirão, 2002).
Numa sociedade em que “nunca tantos viveram tanto” (Carvalho & Baptista, 2004, p. 33) e que indica que o número de pessoas idosas se mantém em crescimento (Maia, 1994), coloca o envelhecimento como um dos maiores desafios do nosso tempo.
O envelhecimento permanece e não se resolve com soluções espontâneas. Enquanto uma crise financeira pode ser resolvida no prazo de alguns anos, o envelhecimento e as alterações demográficas irão com certeza marcar o futuro da humanidade nas próximas décadas (Alves, 2012).
Portanto, o aumento da esperança média de vida, a incompatibilidade entre a vida familiar e a vida profissional, a institucionalização dos mais velhos, as doenças degenerativas e as dependências crónicas obrigam a encontrar novas respostas para o maior desafio da nossa sociedade, o envelhecimento (Alves, 2012). Uma destas respostas poderá passar por aproximar gerações numa sociedade que se pretende livre e democrática e que seja acima de tudo “uma sociedade para todas as idades”. (Carvalho, 1999, p. 62) Temos assim, de acordo com Paulino (1991, p. 29) “fazer de todas as comunidades de pessoas idosas uma sociedade viva e rica, lugar de trocas fecundas, atraente para as gerações mais jovens”. Talvez, uma utopia? Ou quem sabe, um ideal concretizável num futuro próximo? Aliás, a este propósito João Paulo II (citado por Neto, 1999, p. 236) salienta que os idosos são os verdadeiros “guardiães da memória coletiva” e responsáveis pela transmissão dos “ideais e valores humanos” (Ibidem).
Acrescentamos que “não há futuro sem os nossos idosos, se eles não nos legam atualmente o saber, legam-nos seguramente o afeto e nós projetamo-nos em cada ruga dele, como que ao espelho, somos nós próprios e é toda a nossa cultura que olhámos.” (Paúl, 1997, p. 8).
Deste modo, e em jeito de conclusão, talvez tenhamos que afirmar com muita convicção “tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo” (Andrade, 1963, p. 262). Que este “sentimento do mundo” nos faça avançar cada vez mais coletivamente para “uma sociedade mais justa, mais solidária e mais humanista” (Baptista, 2002, p. 74) que indiscutivelmente “precisa também dos idosos, “precisa da sua participação empenhada, da sua lição de vida e do testemunho da sua serena e sábia maturidade.” (Ibidem)
Cristina Silva
(Directora técnica da ERPI do Centro Social João Paulo II)
Referências bibliográficas
Andrade, C. D. (1963). Antologia poética. (3.º edição) Rio de Janeiro: Editora do Autor.
Alves, L. (2012). Entre gerações. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Baptista, I. (2002). Serena Idade. In Terceira Idade: uma questão para a Educação Social. Porto: Universidade Portucalense, p. 71-75.
Carvalho, A. D. & Baptista, I. (2004). Educação Social: fundamentos e estratégias. Porto: Porto Editora.
Carvalho, R. (1999). Uma sociedade para todas as idades. Cidade Solidária, (3), 62.
Maia, F. (1994). O fenómeno do envelhecimento demográfico e a proteção social da população idosa. Sep. Estudos Políticos e Sociais, XI, (1/2).
Neto, F. (1999). As pessoas idosas são pessoas: aspectos psicossociais do envelhecimento. Psicologia, Educação e Cultura, III (2), 297-322.
Palmeirão, C. (2002). Derrubar para mudar. In Terceira Idade: uma questão para a Educação Social. Porto: Universidade Portucalense, p. 35-49.
Paúl, C. (1997). Lá para o fim da vida. Coimbra: Almedina.
Paulino, M. (1991) Respostas Sociais no envelhecimento. Geriatria, 4, (38), 29-31.
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